A cerimônia religiosa desempenha um papel importante em todas as religiões. Nessas ocasiões, segundo certas regras predeterminadas, invoca-se ou louva-se um deus ou vários deuses, ou ainda manifesta-se gratidão a ele ou a eles. Tais cerimônias religiosas, ou ritos, tendem a seguir um padrão bem distinto, ou ritual.
O conjunto das cerimônias religiosas de uma religião é conhecido como culto ou liturgia. A palavra culto (do verbo latino colere, “cultivar”) é empregada em geral para significar “adoração”, mas na ciência das religiões é um termo coletivo que designa todas as formas de rito religioso.
O culto promove o contato com o sagrado, e por isso costuma ser realizado em lugares sagrados (templos, mesquitas, igrejas), nos quais há objetos sagrados (fetiches, árvores sagradas, altares). As pessoas que lideram o culto religioso também podem ser sagradas, ou pelo menos especialmente consagradas a esse trabalho.
As palavras sagradas exercem no culto uma função relevante: orações, invocações, trechos de textos sagrados e os mitos, muitas vezes associados a ritos específicos.
A diferença entre rito e magia
Magia ê uma tentativa de controlar os poderes e as forças que operam na natureza. Costuma-se encontrar a magia em contextos religiosos, e é difícil traçar uma linha divisória nítida entre a religião e a magia, entre uma reza e um encantamento. A distinção que mais sobressai é o fato de, na religião, o indivíduo se sentir totalmente dependente do poder divino. Ele pode fazer sacrifícios aos deuses ou se voltar para eles em oração; porém, em última análise, deve aceitar a vontade divina. Quando, por outro lado, o ser humano se vale dos ritos mágicos, ele está tentando coagir as forças e potências a obedecer à sua ordem — que com frequência consiste em atingir finalidades bem concretas. Desde que os rituais mágicos sejam realizados corretamente, o mago acredita que os resultados desejados decerto ocorrerão, por uma questão de lógica. Se ele falhar, irá culpar um erro em seu ritual, ou o uso de um feitiço mais forte contra si.
A magia já foi interpretada por algumas pessoas como origem da ciência, ou um estágio inicial desta. O que faz o mago, assim como o cientista, é tentar descobrir um elo entre causa e efeito. De qualquer maneira, ele é forçado a fazer observações da natureza e a adotar processos empíricos de raciocínio. Sem dúvida, os magos já fizeram numerosas observações detalhadas sobre as relações naturais, e muitas das plantas e ervas usadas pelos curandeiros podem ser utilizadas também pela moderna ciência médica.
Oração
De certo modo o mais simples de todos os ritos, a oração já foi chamada de “casa de força da religião”. Pode ser a comunicação espontânea de um indivíduo com Deus, e nesse caso não costuma ter uma forma definida, uma vez que é expressa em termos pessoais.
Já a oração coletiva normalmente obedece a um padrão bem definido. Pode ser lida, ou cantada em uníssono, ou entoada como uma antífona, na qual se alternam o que conduz a oração e a assembleia. Determinados atos e gestos estão associados à oração.
A oração também pode se relacionar à dança. O objetivo da dança pode ser invocar a chuva, ou preparar seus participantes para a caça ou a guerra. Os dançarinos usam máscaras e disfarces, e sua apresentação pode se assemelhar bastante a uma pantomima ou peça teatral. As palavras e a cerimônia estão intimamente ligadas. Aqui vemos como um mito, ou narrativa sagrada, se casa com certos ritos. Às vezes eles se fundem a ponto de produzir um drama.
Sacrifício
O sacrifício é um elemento central no culto de muitas religiões. Um sacrifício, em geral algo que as pessoas consideram valioso, é oferecido aos deuses. Pode ser constituído de frutas, primícias das colheitas, um filhote de animal; em certas culturas existem até mesmo exemplos de sacrifício humano. O propósito da oferenda varia, e podemos distinguir entre vários tipos de sacrifício, dependendo daquilo que o sacrificante deseja alcançar. Em todos eles, é constante a experiência do contato e da fraternidade.
Sacrifício de alimentos
O motivo principal para o sacrifício de um alimento é alcançar uma comunhão com os deuses. Quase sempre se trata de uma oferenda animal, que depois é comida pelos sacrificantes. Em regra, o sacrifício é oferecido aos deuses, mas pode acontecer de a oferenda representar o próprio deus. Nesses casos, parte do poder desse deus é transmitida àquele que come a oferenda.
Sacrifícios de expiação
Se um indivíduo cometeu um crime contra os deuses e despertou sua ira, deve ser punido. Para apaziguar os deuses e evitar uma vingança, ele pode fazer um sacrifício de expiação. A oferenda — por exemplo, um animal sacrificial — substitui o culpado e é punida no lugar dele.
Oferenda
A oferenda (do latim offerre, “trazer” ou “oferecer”) é o tipo mais comum de sacrifício e provavelmente o mais antigo. Oferece-se um presente aos deuses e se espera outro em troca. O intuito do sacrifício se expressa na frase latina do ut des, ou seja, “dou para que tu me retribuas o presente”.
Uma oferenda de agradecimento deve ser vista no mesmo contexto. E uma retribuição a algo que os deuses proporcionaram, talvez algo pedido anteriormente.
A primeira vista, isso pode parecer uma forma de barganha, mas devemos considerar o contexto. O ato de dar e receber presentes implica um tipo de associação. Quem dá e quem recebe ficam unidos; e o objetivo das oferendas é também, em parte, alcançar uma comunhão com os deuses.
Vemos, assim, que o sacrifício é necessário tanto para os deuses como para o homem. Os deuses se tornam fortes com o sacrifício. Se não houver sacrifícios, eles se debilitam, o que terá efeitos negativos sobre o mundo e a humanidade, possivelmente na forma de doenças e más colheitas.
Ritos de passagem
Os ritos de passagem se associam às grandes mudanças na condição do indivíduo. As principais transições marcadas por esses ritos são o nascimento, a entrada na idade adulta, o casamento e a morte.
Tais ritos costumam simbolizar uma iniciação. O nascimento é a iniciação na vida, enquanto a morte é a iniciação numa nova condição no reino dos mortos, ou na vida eterna.
De uma forma ou de outra, todas as sociedades têm ritos de passagem, mesmo aquelas em que a religião não desempenha nenhum papel na vida pública. Em geral, é grande a importância deles nas culturas ágrafas, nas religiões primais. Nestas, os ritos de passagem estão claramente ligados às noções de tabu. Tabu é uma palavra polinésia adotada pelos historiadores da religião para indicar uma severa proibição, restrição ou exclusão, e se aplica a algo que é considerado perigoso ou impuro.
Nascimento e morte
Um recém-nascido está fisicamente vivo, mas em muitas culturas só é aceito pela família e pela comunidade depois de passar por certas cerimônias.
Assim como um bebê não está “propriamente vivo” antes dos ritos associados com o nascimento, um cadáver, em determinadas sociedades, não está “propriamente morto” antes de ser enterrado. Os ritos de sepultamento são necessários a fim de que o falecido possa ser aprovado e acolhido pela comunidade dos mortos. Alguém que não seja enterrado de acordo com o costume está arriscado a ter uma existência errante, sem descanso, vagando entre o reino dos vivos e o dos mortos.
O significado de vários ritos de passagem se destaca nas comunidades cuja vida religiosa dá muita importância ao culto aos ancestrais. Um nascimento implica o prolongamento da linhagem familiar e a continuação do culto aos ancestrais. O casamento une um homem e uma mulher vindos de duas famílias distintas, e é preciso que os ancestrais de ambos os lados aprovem o casamento e a união das duas famílias.
Quando um indivíduo morre, a tribo perde um de seus membros e advém uma crise. A vida e a tribo são ameaçadas por forças hostis, e devem se realizar cerimônias para restabelecer o equilíbrio normal da vida. Ao mesmo tempo, os ritos de sepultamento ajudam o falecido a chegar são e salvo ao reino dos mortos, onde ele continuará a viver juntamente com seus antepassados.
Ritos de puberdade
A puberdade indica a transição da infância para a idade adulta, do menino para o homem, da menina para a mulher. Ser sexualmente maduro, porém, nem sempre basta para garantir ao indivíduo o pleno status de membro da sociedade adulta. A confirmação, ou crisma, que é de origem religiosa, muitas vezes é considerada, no mundo ocidental, uma iniciação na idade adulta.
Os ritos de puberdade propriamente ditos são praticados com mais frequência em sociedades tribais.
É comum a circuncisão dos órgãos sexuais, tanto masculinos como femininos. Não se sabe ao certo a origem desse rito, mas em alguns casos ele pode ser associado à crença de que o ser humano originalmente era hermafrodita. O rito realça a diferença entre os sexos, e mostra aos homens e às mulheres o lugar que devem ocupar na sociedade. Enquanto nos meninos a circuncisão pode prevenir certas doenças, nas mulheres reduz a capacidade de desfrutar da atividade sexual. Hoje existe uma pressão para se banir a circuncisão feminina, mais corretamente chamada de excisão do clitóris, uma mutilação dos órgãos genitais femininos.
A iniciação implica o ensino de tradições tribais, leis religiosas, direitos e deveres, habilidades de caça e pesca, perícia na luta e nas tarefas práticas. O jovem deve aprender as narrativas sagradas e os ritos tradicionais. Em muitas tribos, os garotos têm que passar por testes de resistência para demonstrar sua coragem e força física. Sofrem espancamentos e tormentos físicos e psicológicos. Às vezes se praticam mutilações, cortando dedos ou extraindo dentes.
Geralmente a iniciação é tida como um novo nascimento. De fato, o simbolismo dos ritos vai ainda mais longe: a iniciação se torna uma morte seguida de um renascimento. A infância terminou e a criança deve morrer, para que possa nascer novamente como adulto. Em alguns casos, os jovens são deitados em túmulos especiais ou são pintados de branco para ficar parecidos com os mortos.
Do mesmo modo, o renascimento é simbolizado de várias maneiras. Pode-se dar ao jovem um outro nome, indicando assim que ele agora é um indivíduo totalmente novo. Outras vezes ele aprende uma nova língua, isto é, palavras secretas que só são compreendidas pelos iniciados. Ou ainda é alimentado e tratado como se fosse um bebê.
Esse simbolismo do nascimento e da morte pode ser visto num contexto mais amplo: ele reitera a história da criação do mundo. A morte representa caos e confusão, enquanto um novo nascimento, ou nova criação, significa que a ordem, o equilíbrio e a harmonia foram restabelecidos. A transformação de um estado em outro, sempre uma fase crítica, foi realizada.
Ética, os homens se relacionando
As religiões com freqüência não fazem distinção entre o plano ético e o plano religioso. Os costumes da tribo, as regras ou os princípios morais da casta são tão religiosos quanto os sacrifícios e as orações. Entre os dez mandamentos que Moisés deu aos judeus havia os que tratavam de religião — “Não terás outros deuses diante de mim” — e os relativos à ética — “Não matarás”. Incluem-se nos cinco pilares dos muçulmanos tanto o orar a Deus como o dar esmolas aos pobres. Não há aqui distinção entre a ética e a religião. A noção do ser humano como uma criação divina implica que ele é responsável perante Deus por tudo o que faz, ritual, moral, social e politicamente.
As sociedades onde coexistem várias religiões e vários pontos de vista consideram mais difícil vincular a ética exclusivamente à religião. A sociedade precisa ter suas linhas mestras éticas, e algumas delas são preservadas nas leis. Os romanos foram os primeiros a tentar de maneira sistemática criar um arcabouço legal que pudesse ser usado por todos os povos, independentemente da religião. O direito romano se tornou a base para todos os sistemas legais subsequentes nos Estados seculares modernos. Em certos países muçulmanos há dois sistemas agindo em paralelo: um baseado no Corão, outro no direito romano.