Os ensinamentos de Buda

O budismo cresceu dentro do hinduísmo como um caminho individual para a salvação. As duas religiões têm muitos conceitos em comum: as doutrinas do renascimento, do carma e da salvação.

Para Buda, um ponto de partida óbvio é que o ser humano é escravizado por uma série de renascimentos. Como todas as ações têm consequências, o princípio propulsor por trás do ciclo nascimento-morte-renascimento são os pensamentos do homem, suas palavras e seus atos (carma).

Podemos passar pela experiência de ver que certas coisas que pensamos ou fizemos em determinada época da vida nos afetaram mais tarde. Podemos sentir que nosso passado nos alcançou. É essa mesma ideia que percorre o hinduísmo e o budismo. A diferença é que os orientais veem essa relação como algo estritamente regulado — e que se estende de uma vida a outra. O tipo de vida em que o indivíduo vai renascer depende de suas ações em vidas anteriores. O homem colhe aquilo que plantou. Não existe “destino cego” nem “divina providência”. O resultado flui automaticamente das ações. Portanto, é tão impossível fugir de seu carma quanto escapar de sua própria sombra. Enquanto o ser humano tiver um carma, ele está fadado a renascer.

Embora seja possível dizer que a lei do carma possui um certo grau de justiça, ela é vista, no hinduísmo e no budismo, como algo um tanto negativo, algo de que se deve escapar. Assim, a salvação consiste em ser libertado do círculo vicioso dos renascimentos. A eterna série de reencarnações costuma ser comparada a um rio que separa o homem do nirvana. O objetivo do budismo, comum com os outros caminhos indianos para a salvação, é encontrar a “passagem” por onde se pode atravessar para a outra margem.

Num aspecto importante, porém, os ensinamentos de Buda são diferentes do consenso indiano em geral. O hinduísmo acredita que o homem tem uma alma individual eterna (atmã), a qual sobrevive de uma existência para outra. A alma vai se revestindo de outros corpos, sempre renovados. É a alma do homem — seu eu mais íntimo — que está acorrentada à reencarnação. A alma do homem também é considerada idêntica, total ou parcialmente, ao espírito universal (Brahman). 

Buda rompe radicalmente com essa doutrina ao negar que o ser humano tenha alma e ao rejeitar a existência de um espírito universal. De acordo com o budismo, a alma é tão fugaz como tudo o mais neste mundo. O fato de um homem achar que é um “eu”, ou uma alma, baseia-se na ignorância, e essa ignorância tem consequências graves, uma vez que promove o desejo, e é o desejo que cria o carma do indivíduo.

O budismo vê a vida humana como uma série ininterrupta de processos mentais e físicos que alteram o homem de momento a momento. O bebê não é a mesma pessoa que o adulto, e o adulto não é a mesma pessoa que era ontem. E como as imagens numa tela de cinema: movem-se muito depressa e não conseguimos perceber que o filme é “artificial”, que não é algo “vivo”. Na realidade, o filme é a soma das imagens individuais — ou de uma série de instantes.

Não há um núcleo imutável da personalidade, não existe um “eu”, um ego. Tudo é constituído de fatores existenciais impessoais que formam combinações fadadas a decair. Tudo é transitório.

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