O homem foi criado à imagem de Deus. Ele foi equipado pelo Criador para poder viver como Deus desejava; mas existe “algo” que se opõe ao controle do mundo por Deus e a seu plano para a vida terrena. No cristianismo, esse “algo” é chamado de pecado.
A essência do pecado
O Novo Testamento usa a palavra grega hamartia para “pecado”. Esse substantivo deriva de um verbo que pode significar “perder alguma coisa”, “tomar o caminho errado” ou, figurativamente, “trapacear com nosso próprio destino”. Podemos, portanto, dizer que o pecado designa aquilo que rompe com a intenção de Deus para a vida humana. Essa palavra tem um sentido muito mais amplo do que “fazer algo errado”.
O pecado é sobretudo um conceito religioso. Ser pecador não significa automaticamente levar uma vida imoral; pode-se muito bem ser uma pessoa decente. Mas mesmo que o indivíduo não seja um canalha em termos humanos, do ponto de vista de Deus ele é um pecador.
Uma explicação sobre o pecado deve começar pela vontade do Criador. Esta afirma que o homem deve estar com Deus — senhor da vida — e moldar sua existência de acordo com os objetivos de Deus. O pecado é, portanto, o desejo humano da autossuficiência, seu desejo de conseguir viver sem Deus. Romper essa comunhão com Deus leva àquilo que a Bíblia chama de quebrar a lei, quebrar a santidade, de iniquidade e apostasia. Podemos dizer que o pecado é aquilo que separa o homem de Deus. Se Deus é amor, o pecado é a falta de benevolência. Quer se dirija a Deus quer a nossos próximos, os seres humanos, o pecado é aquilo que leva ao egoísmo e ao egocentrismo.
O pecado, porém, não implica apenas as quebras individuais da lei de Deus — ou da ética cristã. É pior que isso. O pecado é mais profundo. Ele fica “no coração” — ou na vontade maligna do homem. É essa tendência da vontade — ou toda essa condição — que engendra aquilo que podemos chamar de pecado real. Assim, do ponto de vista teológico é importante distinguir entre “pecado” e “pecados”. O pecado é tanto um estado como uma atividade.
O problema de muitas pessoas é que elas não têm senso de culpa ou pecado. Talvez acreditem que são razoavelmente morais, ou pelo menos tão morais quanto seus vizinhos. Foi esse o caso do jovem rico narrado no Evangelho de São Mateus (19,16-26).
O caso do jovem rico narrado no Evangelho de São Mateus (19,16-26)
Aí alguém se aproximou dele e disse: “Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna?”. Respondeu: “Por que me perguntas sobre o que é bom? O Bom é um só. Mas se queres entrar para a Vida, guarda os mandamentos”. Ele perguntou-lhe: “Quais?”. Jesus respondeu: “Estes: Não matarás, não adulterarás, não roubarás, não levantarás falso testemunho; honra pai e mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Disse-lhe então o moço: “Tudo isso tenho guardado. Que me falta ainda?”. Jesus lhe respondeu: “Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-me”. O moço, ouvindo essa palavra, saiu pesaroso, pois era possuidor de muitos bens.
Então Jesus disse aos seus discípulos: “Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no Reino dos Céus. E vos digo ainda: é mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus”. Ao ouvirem isso, os discípulos ficaram muito espantados e disseram: “Quem poderá então salvar-se?”. Jesus, fitando-os, disse: “Ao homem isso é impossível, mas a Deus tudo é possível”.
Esse homem era moralmente correto em todos os aspectos, e o Evangelho de São Marcos diz que Jesus o amou. Mas havia algo que o impedia de ter uma relação plena e perfeita com Jesus, e portanto com Deus. Não era simplesmente o fato de ser muito rico, já que em Israel se considerava isso uma bênção de Deus, desde que a riqueza não tivesse sido acumulada com a exploração dos outros. A passagem não diz de que maneira o homem havia enriquecido, mas Jesus compara sua riqueza com a pobreza dos outros. O pecado desse homem rico é que ele era tão apegado a sua riqueza que na verdade quebrara o mandamento fundamental de amar a Deus e ao próximo.
O pecado original
A expressão “pecado original” não se encontra na Bíblia, mas é usada pelos teólogos para descrever o pecado com que todo ser humano nasce. Ele significa que cada pessoa tem um desejo inato de romper com Deus.
A tendência inata de pecar que existe em todas as pessoas é apenas um aspecto do pecado original. Não é somente o desejo de pecar que é passado de geração em geração. Igualmente importante é a ideia de que os resultados do pecado também são transmitidos. Todos sabemos que as ações das pessoas podem ter conseqüências para os outros.