O islã se espalhou pela Ásia e pela África, mas foi a conquista da Espanha que mais afetou a história européia. Entre os séculos VIII e XV, os árabes dominaram a parte sul da Espanha. Eles romperam com o califa de Bagdá e estabeleceram seu próprio califado em Córdoba. Essa cidade se tornou um centro cultural que atraía estudiosos de todo o mundo muçulmano, e demonstrava grande tolerância para com os judeus e os cristãos. A cultura hispano moura passaria a exercer forte influência na Europa, não só na arquitetura e na literatura, mas também na filosofia. Foi graças aos filósofos árabes do Sul da Espanha que a Igreja católica descobriu Aristóteles, filósofo clássico da Grécia que haveria de desempenhar um papel considerável na formação do pensamento católico durante a Idade Média.
Averróis de Córdoba
O maior dos filósofos de Córdoba foi Ibn Ruchd, ou Averróis (1126-98). Ele acreditava que era seu dever defender a filosofia e a ciência, numa época em que forças poderosas dentro do islã desejavam impedir todo pensamento independente. Averróis foi um muçulmano devoto que aceitava a autoridade de Maomé e não questionava averacidade do Corão. Acreditava, no entanto, que as afirmações do Corão podiam ser interpretadas de várias maneiras. O Corão é escrito para todas as pessoas, tanto cultas como ignorantes, e portanto utiliza um estilo alegórico bem específico. Os que não têm instrução precisam imaginar Deus sob uma forma humana e o paraíso como um lugar de confortos materiais. Contudo, comentava Averróis, os indivíduos mais esclarecidos percebem que esses conceitos são apenas símbolos que carregam um significado espiritual.
Averróis desejava combinar a religião com o pensamento filosófico e científico, mas a oposição a esse ponto de vista não parou de crescer. Nos séculos que se seguiram à morte de Averróis, os estudiosos muçulmanos se concentraram no estudo das escrituras e da tradição. No século XX, porém, novas ideias de reforma e liberalização vêm sendo debatidas, e muitos muçulmanos têm tentado adaptar sua religião às condições atuais e à ciência moderna.
O sufismo
Os primeiros séculos da história do islã foram dominados pelas atividades externas, pela guerra e pela diplomacia. Entretanto, logo surgiu um movimento que incentivava a reclusão e a meditação. Essa tendência recebeu o nome de sufismo, provavelmente em virtude das vestes de lã usadas por seus seguidores (a palavra árabe para “lã” é suf).
Os ideais do islã podem não incluir o ascetismo, mas apelam para que se adote uma atitude séria em relação ao Juízo Final, num estilo de vida simples e responsável. Por isso muitos muçulmanos se indignaram com a vida luxuosa que passara a reinar na corte do califa de Bagdá. Eles desejavam levar uma vida puritana, de jejum, oração e meditação.
Ao mesmo tempo, o conceito divino ia se alterando. Os sufis acreditavam que Deus era, acima de tudo, um Deus amoroso com quem o homem podia alcançar uma união mística. Esse pensamento parecia contrastar substancialmente com a ideia de Deus como o juiz exaltado, inacessível, a quem o homem deve se submeter. Em consequência, os primeiros místicos logo entraram em conflito com a corrente principal do islã. Em certos casos foram acusados de blasfêmia por causa de seu conceito de Deus. Um dos místicos que mais se destacaram foi executado. Tratava-se de Halladj, que acreditava que Deus passara a morar dentro dele, e que, portanto, havia total unidade e harmonia entre Deus e ele. Para os sufis, Jesus era tão importante como Maomé, e muitas palavras atribuídas a Maomé lembram palavras de Jesus registradas nos evangelhos, como, por exemplo: “Eu sou a verdade”, “Quem me vir, verá a Ele”, e também, quando foi crucificado: “Perdoai-os, Senhor, tende piedade deles”. Em suma, no início do sufismo Jesus representou um papel importante como ideal ascético.
Um século e meio depois de Halladj, Ghazali tentou combinar a devoção do sufismo com os dogmas da corrente principal do islã. Ghazali foi um dos maiores pensadores do mundo. Nem o estudo da filosofia, nem o da lei o satisfizeram. Após uma longa busca, ele tomou o caminho do misticismo, onde todos os desejos e todas as preocupações são afastadas para que o pensamento possa se concentrar em Deus. A conclusão de Ghazali foi que a verdade mística, real e última não pode ser aprendida, mas deve ser experimentada por meio do êxtase.
Em seu cerne, o misticismo sufi tem características comuns com o misticismo de outras religiões. O sufismo também usa exercícios especiais de meditação, como, por exemplo, uma oração ou uma palavra que é repetida continuamente, por vezes acompanhada de determinados movimentos ou exercícios de respiração. Trata-se de uma técnica para entrar em transe. Um auxílio usual é o rosário e a repetição dos “99 mais belos nomes de Deus”.
O sufismo não é uma tendência organizada. Encontram-se sufistas tanto entre os muçulmanos xiitas como entre os sunitas.