Os sacramentos

O amor e a proximidade de Deus se evidenciam não apenas por meio de suas palavras, mas também sob a forma de atos sagrados, os sacramentos.

A palavra latina sacramento não é mencionada na Bíblia; significa “uma maneira de tornar sagrado”, isto é, de fortalecer os laços entre Deus e o homem. Trata-se de um oferecimento palpável, feito por Deus, de uma proximidade com o homem.

O termo sacramento pode, em princípio, aplicar-se a uma série de ações que reforçam a comunhão com Deus. A Igreja católica romana reconhece sete sacramentos. Dois têm significado especial e são vistos como sacramentos também na Igreja protestante: o batismo e a eucaristia, ambos utilizados como sinais externos, visíveis, e ambos instituídos por Jesus.

O batismo

O próprio Jesus instituiu o batismo, segundo Mateus, juntamente com seu “mandamento missionário” no Dia da Ascensão. Desde os primeiros dias do cristianismo, o batismo foi o passaporte para entrar na comunidade cristã; é um ato de iniciação. Jesus permitiu que João Batista o batizasse e assim iniciou sua missão. Porém, um cristão considera esse sacramento mais do que apenas uma entrada para a Igreja. Mediante o batismo, Deus concede a salvação e o perdão ao homem. O homem morre, é ressuscitado com Cristo e assume seu lugar na comunidade de Deus. Também é comum na linguagem cristã se referir ao batismo como “novo nascimento”.

O batismo não pode ser separado da Palavra de Deus. Não é um ritual mágico que tem um poder intrínseco. “Sem a Palavra de Deus, a água é apenas água e não um batismo”, disse Lutero.

Esse sacramento também não pode ser divorciado da fé. Aqui está o germe do antigo debate sobre batismo de crianças versus batismo de adultos. Os que apóiam o batismo dos adultos acreditam que a fé pressupõe uma conversão pessoal, uma escolha, e que o batismo é um ato de confissão e obediência. Os que favorecem o batismo de crianças afirmam que é apenas pela graça e pelo amor de Deus que somos salvos, os esforços do próprio homem não significam nada. Portanto, as crianças, bem como os adultos, podem ser admitidas no reino de Deus por meio do batismo. Isso não impede que a pessoa batizada assuma uma fé pessoal mais tarde.

Eucaristia

Eucaristia é uma palavra grega que significa “dar graças”, e se refere à ceia que Jesus compartilhou com seus discípulos mais próximos antes de ser executado.

Os ingredientes básicos da ceia foram pão e vinho. São essas as coisas que Jesus escolheu para demonstrar o significado de seu ministério. Ele se ofereceu a si mesmo, em carne e sangue, para que o homem pudesse ser perdoado pelo rompimento de sua relação com Deus. “E tomou um pão, deu graças, partiu e distribuiu-o a eles, dizendo: ‘Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória’.”

Até mais do que o batismo, a eucaristia vem sendo motivo de discordância e conflito; as várias igrejas já ressaltaram diferentes aspectos desse sacramento. Eis alguns dos temas da eucaristia:

  • tema da comunidade. Jesus instituiu uma maneira de fortalecer o companheirismo, tanto a comunhão com Deus como a amizade entre os que compartilham aquela ceia. Em algumas igrejas a eucaristia é conhecida como comunhão. A eucaristia antecipa a realização do reino de Deus;
  • O tema da lembrança. Este oferece a justificação histórica e chama a atenção para aquilo que Deus fez pelo homem por meio da vida e do ministério de Jesus;
  • O tema da confissão. A eucaristia é uma confissão de fé em Deus e no homem. Isso é especialmente verdade onde ela já não é um costume social;
  • O tema da força. Por meio da eucaristia, Deus perdoa o pecado, e concede nova força e nova vida. Jesus doa a si mesmo por meio do pão e do vinho;
  • O tema do agradecimento. A eucaristia é um presente, e um sentimento de gratidão e alegria caracteriza sua celebração, até mesmo nos primeiros tempos do cristianismo;
  • O tema do sacrifício. Na Igreja católica romana, a eucaristia também é considerada uma reatualização do sacrifício de Jesus no Calvário. Na Igreja católica, a eucaristia é igualmente conhecida como “sacrifício da missa”.

Oração

A associação do Espírito Santo com o ser humano não se liga apenas à anunciação e aos sacramentos. A oração é outro meio pelo qual o cristão entra em contato com Deus.

Segundo os evangelhos, Jesus orou muitas vezes, sobretudo em eventos importantes. Ele ensinou seus discípulos a orar, e o Novo Testamento é repleto de exortações à oração. A oração sempre foi uma pedra fundamental na história da Igreja, tanto nos serviços religiosos como na vida do indivíduo cristão.

A oração é o homem falando com Deus. Ela assume uma relação eu-tu, ou nós-tu; em outras palavras, um vínculo pessoal com Deus. Deus é o criador e um juiz exaltado, mas ele também é alguém que o homem pode chamar de “pai”.

Para que orar? Essa é uma pergunta que todo cristão fará a si mesmo mais cedo ou mais tarde, quando não receber uma resposta positiva a uma oração.”

Pede e receberás”, disse Jesus, mas ele também ensinou seus discípulos a dizer: “Seja feita a tua vontade”. Na polaridade entre esses dois sentimentos reside a compreensão cristã da oração. Podemos orar a Deus por qualquer coisa, mas Deus não pode ser forçado ou coagido como acontece nas práticas mágicas. O objeto da oração não é conseguir a realização de nossos desejos egoístas, mas a realização da vontade de Deus.

O significado da oração

A oração mais comum expressa um desejo, um anseio de algo. O pai-nosso é um bom exemplo da amplitude dos desejos, desde o palpável “pão nosso de cada dia” até “livrai-nos do mal”.

Uma intercessão é uma oração por outras pessoas. Contraria o egocentrismo quem reza pela família, por amigos e conhecidos. Mas ela também transcende esses limites. Jesus exortou as pessoas a “orar por seus perseguidores” e na cruz ele orou: “Pai, perdoai-os, pois eles não sabem o que fazem”.

Uma oração de agradecimento é oferecida em gratidão pelo recebimento de uma graça. Um bom exemplo é a história narrada em Lucas 17,11-19: conta que Jesus curou dez leprosos e apenas um voltou para lhe agradecer.

Essas orações também são ditas para agradecer coisas pelas quais a pessoa não rezou; presentes que a pessoa sente que Deus concedeu apenas por amor: saúde, amigos, e assim por diante. A gratidão muitas vezes se transforma em louvor. Esse é um dos tipos mais comuns de oração no Novo Testamento. Paulo com frequência inicia suas epístolas com expressões de agradecimento e louvor.

A oração e o louvor eram importantes nos serviços litúrgicos desde a aurora do cristianismo, e se tornaram parte inerente da liturgia da Igreja. A oração desse tipo é chamada de fixa ou litúrgica. Por outro lado, existe também a oração espontânea, na qual o indivíduo pode usar suas próprias palavras e expressões.

Pode-se orar só ou em companhia de outras pessoas, durante um serviço religioso. O Novo Testamento relata que os apóstolos se reuniam para fazer orações em comum (Atos 2,42). O conselho de Jesus para que se entrasse num quarto isolado para orar era sobretudo uma advertência para não se alardear os sentimentos religiosos por meio da oração (Mateus 6,5-6).

O cristianismo não exige nenhuma atitude física especial para a oração. A pessoa pode se ajoelhar, ficar de pé, abaixar a cabeça, entrelaçar as mãos ou erguê-las para o céu. Nenhum desses gestos expressa mais religiosidade do que o outro, e o próprio fiel decide qual atitude deseja adotar.

A Igreja é a comunhão cristã – não existem regras para elas

Pouco depois da morte de Jesus, as pessoas se reuniram para ouvir a história de sua vida e de seus milagres. As primeiras congregações cristãs foram assim formadas, e podemos ver no Novo Testamento que existia um grau extraordinário de amor e boa vontade entre os membros desses pequenos grupos.

São essas as sementes do que hoje se chama Igreja. Porém, não há regras no Novo Testamento sobre a maneira como uma igreja deve ser formada; existe apenas a noção de Igreja.

A Igreja é de Deus

Para compreender a noção de Igreja, devemos considerar o modo como Jesus via a si mesmo. Ele se identificava como o rei prometido, o Messias. E um rei deve ter um povo. Dizendo “Sigam-me” ele estabeleceu os fundamentos da Igreja. A Igreja é, portanto, a comunhão de todos os que seguem esse chamado.

A própria palavra igreja está relacionada com o termo grego kiriaké — ou seja, a casa de Kyrios, o Senhor. Equivale à palavra ekklesia, usada no Novo Testamento para designar “as pessoas chamadas e reunidas (para o serviço divino)”, a assembleia, a congregação.

Em consequência, os cristãos não creem que sua Igreja passou a existir porque certas pessoas formaram uma organização, e sim porque um espírito divino passou a se mover entre os homens. O Pentecostes, quando Jesus enviou seu Espírito para guiar a humanidade, costuma ser considerado o aniversário da Igreja.

A palavra igreja, portanto, está associada à comunhão com Cristo e ao companheirismo entre os adeptos. Mas é também o nome do edifício onde as pessoas se congregam para a adoração.

Numa miríade de imagens, o Novo Testamento explica aspectos importantes da igreja, ou do povo de Cristo. A comunidade ou congregação pode ser comparada com uma casa, um vinhedo ou um organismo vivo. Pode-se pensar em igreja como algo ao mesmo tempo visível e invisível. A igreja é uma comunidade espiritual, é a fé da congregação cristã e nesse sentido é algo invisível. Mas é também um lugar onde se proclama o evangelho e se administram os sacramentos — algo visível. A Igreja é uma reunião não apenas de sacerdotes, pregadores e funcionários da igreja, mas de todos os que acreditam em Jesus Cristo.

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