Salvação — expiação, libertação e cura

O cristianismo proclama que Deus se tornou homem. Isso significa que Deus intervém ativamente na batalha entre o bem e o mal no mundo. Ele repara o dano causado ao relacionamento entre os homens, e entre Deus e os homens. O homem é libertado de seus grilhões e curado daquilo que o aflige. Portanto, o sofrimento, a morte e a ressurreição de Jesus dá ao cristão uma nova vida, uma vida eterna.

Expiação

A cruz é o símbolo mais importante do cristianismo. Os quatro evangelhos dão grande peso aos acontecimentos dos dias imediatamente anteriores e posteriores à morte de Jesus. A teologia de Paulo também se concentra na crucificação e ressurreição de Jesus. É o Jesus crucificado que é o redentor dos seres humanos.

O significado para a fé cristã do sofrimento, a morte e a ressurreição de Jesus

O pecado destrói o relacionamento do homem com Deus; vimos que surgiu uma inimizade entre o homem e Deus. O cristianismo ensina que o Jesus inocente assumiu para si a culpa do mundo e sofreu a punição que caberia à humanidade. Ele sofre e morre no lugar do homem. Os cristãos chamam a isso de sofrimento vicário. Por meio dele, Deus se reconcilia com o mundo, e o contato do homem com Deus é restabelecido.

Paulo enfatiza que a expiação de Jesus é um presente para a humanidade, embora esta não o merecesse. Em oposição às normas do pensamento judaico, ele destaca que o próprio homem não pode fazer nada para se reconciliar com Deus. A reconciliação vem apenas da mão de Deus, isto é, da parte isenta de culpa. A expiação de Cristo — o fato de que ele deu sua vida pelos homens pecadores — é, portanto, um ato de compaixão.

Para Paulo, era fundamental estabelecer que de modo algum o homem pode se tornar merecedor da graça; ele não tem nenhum direito à justiça diante de Deus. Porém, quando o homem recebe a mercê de Deus, ele é absolvido. Deus “absolve os culpados”, como diz Paulo. Isso tem o mesmo significado que o perdão dos pecados. Logo, a doutrina de que o homem é absolvido sem merecer é essencial para os ensinamentos de Jesus.

Deus venceu a morte e o mal por meio da ressurreição de Jesus. A humanidade recebeu uma nova chance, uma nova esperança. A ressurreição é o ponto mais fundamental do cristianismo; e, assim, a Páscoa é o ponto alto do ano eclesiástico. Paulo resume: “E, se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também é a vossa fé” (Coríntios 15,14).

Salvação

A palavra usada no Novo Testamento para “salvo” é um verbo grego que significa “redimido”, “preservado” ou “curado”.

Um conceito básico do cristianismo é que o homem não pode salvar a si mesmo. A salvação é dada livremente ao homem se ele acreditar em Cristo e em sua expiação.

É apenas por meio da fé em Jesus que o homem pode ser salvo. Esse pensamento é um tema recorrente nas epístolas de Paulo. Também Jesus acentua a importância da fé para a salvação. “Tua fé te salvou”, disse ele em várias ocasiões. Mas a fé não é igualmente uma conquista? Não, segundo o Novo Testamento. A fé é um dom de Deus. Ao enfatizar a importância da fé para a salvação, Paulo não está falando de “ortodoxia”. A fé tem mais a ver com o coração do que com a cabeça. Hoje em dia, muitas pessoas interpretariam o verbo crer como “ter uma convicção” ou “achar que algo é verdade”. Em termos cristãos, é mais correto falar em “confiança” ou “fidelidade”. A palavra latina para “fé” {fides) significa justamente isso.

De que é a salvação?

Do que o homem deve ser salvo? A Bíblia indica que a salvação significa se libertar do poder que o pecado exerce sobre o homem. É comum que os sentimentos de culpa venham após o pecado.

Hoje em dia, tanto o pecado como a culpa muitas vezes são vistos como algo social ou coletivo e não individual. Mas até isso é uma ideia bíblica: não é apenas como indivíduos que somos culpados aos olhos de Deus. Nós pertencemos a uma humanidade culpada.

Atualmente diversas pessoas se preocupam mais com o vazio e a falta de sentido da existência do que com o pecado e a culpa. Palavras como alienação e ansiedade e a expressão “falta de raízes” descrevem o destino de muitos hoje. Sentimentos de carência e insignificância costumam. vir junto com pensamentos sobre a morte. A angústia pela vida é, na realidade, uma angústia pela morte, segundo boa parte dos psicólogos. Através de toda a história do cristianismo, com freqüência a salvação foi interpretada como salvação da nossa mortalidade.

Salvação – para quê?

Outra palavra para “salvação” é liberdade.

Se, pois, o Filho vos libertar, sereis, realmente, livres, disse Jesus (João 8,36).

Em sua epístola aos romanos, Paulo escreve que Cristo o libertou da lei do pecado e da morte (Romanos 8,2).

É um conceito bíblico que a vida na terra tem valor intrínseco. Portanto, em toda a Bíblia, a morte é vista como algo negativo. Paulo chama a morte de “o último inimigo”. E é a vitória de Jesus sobre a morte, com sua ressurreição, que forma a base para a esperança cristã na vida eterna. É com esse pensamento que Paulo exclama triunfante:

Morte, onde está a tua vitória?

A morte foi absorvida na vitória.

Morte, onde está o teu aguilhão?

Coríntios 15,55

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