Segundo o mais antigo dos evangelhos, o de Marcos, Jesus aparece como um pregador que traz esta mensagem:
“Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Marcos 1,15).
Assim, a expressão “reino de Deus” deve ser considerada uma esperança de um futuro reino da salvação. O reino de Deus começaria no final dos tempos, quando o Messias chegasse. Alguns o interpretavam como um reino político terreno, tendo como centro Jerusalém e o povo de Israel. Outros o viam mais como um reino do além, com vida eterna para os redimidos, o que viria depois de uma catástrofe global em que todos os poderes iníquos seriam vencidos. Contudo, não havia uma linha divisória nítida entre os dois modos de pensar. Com frequência, ambos se encontram no mesmo grupo.
A afirmação “o Reino de Deus está próximo” não era original na época de Jesus– antes dele, João Batista e vários outros como ele já haviam pregado a mesma mensagem: este mundo está caminhando para a destruição — e Deus assumirá o poder como rei. A ideia radicalmente nova nas prédicas de Jesus é que a vinda do reino de Deus estava ligada à pessoa dele. Jesus não apenas diz que o reino de Deus virá no futuro imediato (embora diga isso também), mas em várias ocasiões ele menciona que o reino de Deus já chegou.
Essa dicotomia na proclamação que faz Jesus do reino de Deus está ligada à maneira como Jesus via a si mesmo. Era ele quem haveria de revelar e implementar o reino de Deus. Por meio de suas prédicas e de suas curas, o reino de Deus já passara a existir. A nova era — a era messiânica — já começara.
Ao mesmo tempo, muitas das palavras de Jesus deixam claro que o reino de Deus é algo que pertence ao futuro. O sucesso final da vitória de Deus sobre o mal virá quando o Filho do Homem chegar “vindo sobre as nuvens do céu com poder e grande glória” (Mateus 24,30).
A polaridade entre agora mesmo e ainda não sempre caracterizou o cristianismo e os ensinamentos cristãos. E os caracteriza até os dias de hoje.