De onde surge o mal, segundo o Cristianismo

Tanto a história da queda do homem (Gênesis 3) como a doutrina cristã do pecado original levantam a questão: de onde vem o mal? O primeiro capítulo da Bíblia termina com as palavras: “Deus viu tudo o que tinha feito: e era muito bom” (Gênesis 1,31). Porém, logo adiante lemos que Adão e Eva foram expulsos do paraíso, que a morte fez sua aparição, que a mulher deu à luz com dor, que Caim assassinou seu irmão e que o mal aumentou pelo mundo afora. Chega até o ponto em que Deus lamenta a criação (Gênesis 6,5-8).

Ao mesmo tempo, afirmamos que Deus é todo-poderoso. Como se explica isso? Como Deus pode ser todo-poderoso e infinitamente bom, quando há tanto sofrimento no mundo? Denominamos esse conflito de “o problema do mal”.

O problema do mal sempre preocupou a humanidade. Ele absorve vários autores bíblicos, como Jó e o Eclesiastes. Teólogos e pensadores já o debateram através de toda a história da Igreja. Para muitas pessoas, esse problema é tão forte que se transforma na própria questão de saber se é possível acreditar em Deus ou não. O dilema pode ser resumido deste modo: se Deus é todo-poderoso, ele não pode ser bom, e se ele é bom, então não pode ser todo-poderoso.

Tal problema pode parecer insolúvel. Mas o que queremos dizer com “todo-poderoso”? Se todo-poderoso significa que Deus é a causa de tudo, tanto a queda do homem do estado de graça como a doutrina cristã da expiação perdem o sentido. Contudo, a Bíblia não proclama nenhuma doutrina desse tipo. Do início ao fim, ela fala de uma força no universo que se opõe a Deus.

A Bíblia afirma que o mal existe de fato no mundo e que a humanidade tem o mal dentro de si. O homem já causou guerras, inimizades e sofrimentos na terra. A Bíblia fala de uma força que se opõe a Deus. Foi o homem que construiu os campos de concentração, foi o homem que usou bombas de napalm e bombas de gás em várias guerras. A história da criação fala metaforicamente da “serpente”. Fala das “forças sobre-humanas do mal”, de Satã que, segundo a lenda, tinha sido o mais belo de todos os anjos — Lúcifer (portador da Luz) — mas foi expulso para as regiões infernais por se opor à vontade de Deus. Fala também de um poder pessoal de oposição a Deus: o diabo.

Então será que Deus não é todo-poderoso, afinal? Embora todos experimentemos o mal como parte da existência humana, o cristianismo sustenta que o mal um dia será vencido. Tampouco é verdade, como muitos acreditam, que Deus se mostra “mais todo poderoso” no Antigo Testamento do que no Novo e depois. Bem ao contrário: o mal, seja considerado uma força pessoal ou impessoal, está presente desde o início. Até mesmo a serpente existia antes da queda. O cristianismo, porém, prega a esperança de “novos céus e uma nova terra” quando “Deus será tudo em tudo”. Em certo sentido, podemos dizer que o aspecto todo-poderoso de Deus — com referência a seu “poder sem igual” — é algo que será revelado no futuro.

Mesmo assim, para muitas pessoas o problema do mal é o motivo principal para negar o cristianismo. É bem fácil dizer que algum dia o mal será derrotado. Mas onde estava Deus em Auschwitz? Onde estava ele em Hiroshima? Jesus fez a mesma pergunta quando estava na cruz: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”.

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